sábado, 17 de abril de 2010

Isabelino Aguilera - meu pai


E a vida continua…
Mas cheia de lembranças e recordações!
Semana de rever tudo que foi seu, fotos, filmes, seus escritos, seus projetos...suas roupas.
Papeis foram rasgados e em um determinado momento meu coração doeu de ver que papeis onde ele escreveu também se vão.
Fico pensando no que foi dito e no que não foi dito.
Em gestos demonstrados e outros que ficaram ocultos.
Das coisas que meu pai gostava e que agora não verá nunca mais. Isso me faz sentir mal, cada vez que eu olhar algo de belo pela vida vou saber que ele gostaria de ver.
De extrema sensibilidade para algumas coisas e em outras vezes tão duro.
Amou a vida, a natureza, a arte, as viagens...
Seus olhos que viajaram em algumas partes do mundo devem ter enxergado coisas sob a ótica de um artista.
Fotografias tiradas de tantos lugares diferentes que nem sei onde são, mas que mostram a singularidade da existência de algumas coisas, como por exemplo, uma árvore.
Fez poucos amigos, mas grandes e presentes.
Conquistou muitas pessoas, deixou boas marcas.
O que aprendi?
Ser honesta, organizada, cumpridora de minhas obrigações, não reclamar de circunstâncias desfavoráveis (essa eu aprendi agora, de vê-lo sob a cama paralisado e nunca reclamou e nunca questionou Deus), acreditar, me permitir a sonhar, idealizar, amar a vida e lutar.
Meu pai foi um guerreiro. Ele sabia que sua neta Sofia estava para chegar e pedimos a ele que esperasse. Num primeiro momento ele disse temos que esperar e depois disse: “está difícil”.
Infelizmente após a perda é que passei a valorizá-lo e admirá-lo mais.
Meus dias de infância deixaram marcas e cresci de maneira inábil a demonstrar meus sentimentos a ele, era uma timidez em me aproximar dele...
Seus últimos dias foram de dor. Mexeram comigo, sofri, fiquei inquieta, tive insônia, clamei a Deus por misericórdia.
Não queria vê-lo sofrer. E ele estava ali, segurando nossa mão, nos admirando, e em seu corpo humano já sentia saudades.
Um dia antes de sua morte ele segurou minha mão e disse que tudo doía e que estava cansado, e eu consegui dizer “você já vai descansar”.
O momento da partida doloroso para meu irmão e sobrinho que o viram pela ultima vez.
Receber o telefonema de madrugada à 1:45 da enfermeira chefe de plantão, a Márcia, um saber sem querer saber – venham urgente ao hospital.
Vê-lo estendido sob a cama sem aparelhos e sem sondas, um alivio, mas ele não estava mais lá. Dormia um sono tranqüilo. Segurei em sua mão já fria, embora seu corpo ainda estivesse quente.
Quis ver as marcas de seu sofrimento, estas ainda estavam lá, mas com certeza meu pai já não sentia mais aquelas dores que o atormentaram naqueles 18 dias.
Fazia 30 minutos que eu recebera a ligação do hospital e quando minha mãe colocou a mão sob seu coração, ele ainda batia, bem leve, mas batia, por isso o corpo quente, significa que ainda corria sangue pelo seu corpo.
O nascimento é um momento só nosso. A morte também.
Meu pai estava sozinho nessa hora, não havia ninguém da família presente, apenas a Márcia que passava por sua cama foi ver se estava bem, ela o chamou e perguntou se estava tudo bem, ele ainda abriu os olhos e disse que sim, ela virou as costas a maquina apitou.
Massagem cardíaca não funcionou, era sua hora.
Uma semana depois, parece que ele ainda vai entrar por aquela porta...

6 comentários:

  1. Amada Lia,
    O texto que escreveu é lírico,sobre uma pessoa lírica.Ele representou em viva voz as linhas tênues da existência humana,linhas do universo que ele representou tão bem na poética arquitetura que construiu.Essa representação do mundo em sua arquitetura,mostrou traços indeléveis de sua própria persona:doce,delicado,firme,com ideal estético que lembrava o mundo que um dia haveria de habitar,a gênese de tudo:o Éden.
    Reproduziu o Éden em sua poética arquitetura com uma humildade dos santos e dos poetas.Viveu um mundo lírico,de linhas perfeitas,reproduzindo para nós a perfeição do universo em suas casas,templos,cozinhas que arquitetava.Eu disse a palavra"cozinha"de propósito.Lembro-me que um dia,ele nos visitou em casa,e diante de nós contou que estava desenhando uma cozinha,seu novo projeto.Fiquei estarrecida com a leveza desse projeto e pensei que talvez estivesse trazendo para nós uma nova percepção,a edênica.
    Eu como você,amarei,admirarei,não esquecerei até depois do fim,este homem,meu tio,que dorme agora,no mundo dos santos e dos poetas.Obrigada Senhor,por uma existência tão rara,lírica,sagrada.
    Saudades eternas,
    Vania,Gabriel,Maria Clara

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  2. Lia,
    My precious and loving sister...I am so very sorry for your loss, as I can say, I know how you feel. I lost my daddy 10 years ago. He was 83 and it was his time to go to God, He called him home. My heart breaking as I drove 5 hours after getting the call. At least I had seen and spoken to him the weekend before. You have memories that will last forever, and the pain of loss will fade as time goes by. I sometimes feel that twinge of pain at times in my life when I wish he were here for milestones in my son's life, even at times in my life when I feel I NEED my Daddy, as I was "Daddy's Girl". I want you to know how very much you mean to me. I wish I had known sooner. I am so sorry that I didn't know sooner. I wish I could be there to hug you and say "Everything will be Okay, sister..." You are always in my heart, Lia, and if I can do anything for you, I am here, PLEASE, Just email me and I'll Be There.
    I wish we could just pick up the phone and call each other, but I know we cannot. If you need me, I am turning on my SKYPE. I will keep it on all day and every day.
    I LOVE YOU SO VERY MUCH. YOU AND YOUR FAMILY ARE IN MY PRAYERS FROM THE BOTTOM OF MY HEART AND SOUL XOXOXOXO
    Pam

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  3. Meus pésames, sei a dor da sua perda. É uma parte de nós que vai; não sinta remorso, as pessoas precisam ser valorizadas, amadas e respeitadas enquanto vivas.

    Procure aprender com alguns erros, que por ventura, vc tenha cometidos, com certeza seu pai sempre te amou e levou com ele, e deixou também muito amor por vc.

    A dor passa, mas as lembranças permanece para sempre em nossa memória.

    Bj

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  4. Nao sei por onde comecar Lia,me entristeci, a gente acaba revivendo também nossas perdas. Sempre ouco dizer que nos momentos de sofrimento nao devemos sufocar a dor, devemos vive-la para podemos supera-la e continuar em frente, entao é o que desejo para voce: fé e forca para seguir adiante.

    Abracos, Nádia.

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  5. Lia, que texto maravilhoso, sei como sua perda e de sua família é grande, mas consegui externar o que sente é uma dádiva divina.
    Beijos com carinho e lhes desejando muita força
    Regina Jorge

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  6. Sinto muitissimo pela morte de seu pai. Eu fui estagiaria do Aguilera. Ele me inspirou a continuar a acreditar e continuar a trabalhar com a Arquitetura. Perdi o contato com ele, mas sempre acreditei na sua força. Eu nao moro mais no Brazil. E hoje por acaso estava buscando informaçoes sobre seu trabalho e infelizmente encontrei a nota do seu falecimento. Ele realmente foi uma grande influencia para mim. E a ele so tenho que agradecer. Fe e forca para seguir adiante. A influencia dele esta entre todos nos.

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