domingo, 27 de março de 2011

limites demais


          Outro dia quando estava no onibus, me sentei ao lado de uma garota muito jovem que pensei deveria ter uns 16 anos. Logo chegou uma outra que sentou-se em nossa frente, aparentava ter uns 18 anos já com uma filha de 2 anos. As duas se conheciam e iniciaram um diálogo.
Eu não estava prestando atenção, o que me chamou atenção foi quando a mais nova que eu achava que tinha 16 anos, ja tinha 19 e não morava mais em casa.
Já é independente, trabalha e divide apartamento com uma amiga e acrescentou não "converso com minha familia."
Ai fui ficando mais interessada, não me manifestei, me sentei como se estivesse assistindo a um filme. Achei a menina de 19 anos muito corajosa, mas não tenho idéia do que ela ja deve ter passado na vida. Hoje ela parece estar bem, trabalha, cuida de suas coisas, é dona de seu nariz, e como ela mesmo disse "não tenho que dar satisfação pra ninguém"! "Saio pra onde quero e volto a hora que quero."
Mas meus pensamentos na hora se voltaram a limites. Muito se discute sobre a falta dele, o como se deve cuidar dos filhos, amá-los mas também o quanto se deve respeitá-los.
O que pouco se fala é sobre o excesso de limites. Uma inabilidade por parte dos pais ou de quem cuida, não dando a liberdade que o filho necessita para se desenvolver como adulto saudável.
O que pude ouvir da conversa das meninas, é que a mãe dela não a deixava  ir até a esquina, padaria, mercado sozinha, sempre tinha que estar acompanhada do irmão. Ela nunca pode sair sozinha. Sempre muito vigiada.
Excesso de limites podem ir aos extremos no comportamento de quem está se desenvolvendo.
Ou surgem as revoltas ou vão para o oposto, causando insegurança, medo de crescer e a pessoa pode ir se apagando sem arriscar muitas coisas pela vida. Ficam inábeis. Não sabem se defender de um perigo real.
Retornando a garota de 19 anos, ela pelo visto está vencendo seu dia-a-dia, mas e as mágoas e ressentimentos que ela está levando pra sua vida? Isso com certeza um dia ainda vão lhe trazer sintomas.
Ela era enfática quando dizia "não sinto falta de minha familia e nem quero ve-los na frente."
Mas não penso que seja bem assim. Ela é humana, tem sentimentos. O que ela vive hoje são consequencias de sua infancia e inicio de sua adolescencia com vivencias provavelmente duras e muito vigiadas. Lembro que ela comentou, que ela esperou alguns dias antes de completar 19 anos para sair de casa. Até fantasio de que ela deve ter colocado em sua cabeça, que só seria maior de idade, após sair dos seus 18 anos.
Sua colega perguntou, como foi sair de casa, se ela havia saido escondida? E ela tranquilamente disse que não, ela foi pro quarto arrumou suas coisas e a mãe viu, questionou e ela simplesmente comunicou "estou saindo de casa", e sua mãe entrou em panico, se preocupou mas ela já estava decidida com seus planos e projetos prontos. E provavelmente com muita raiva, mágoas e foram estes os sentimentos que a impulsionaram.
Imagino, ela já devia  estar com tudo pronto, lugar, trabalho...Planos que devem ter sido elaborados com cuidado para que nada saisse de seu controle, afinal foi isso que ela aprendeu, controle demais. E filhos tem a tendencia a aprimorar sintomas e comportamentos mostrados em familia.
Quanta coisa poderia ter sido evitada para a vida desta garota. Hoje ela parece estar bem. Penso até que por parecer  tão forte, ela será alguém que vai se dar bem na vida - profissional! A vida pessoal dela, está morta, foi anulada, ela brigou com sua própria história e isto trará consequencias para o seu futuro.
Penso também nesta mãe, aflita sem noticias dessa filha há um bom tempo. A mãe não sabe onde ela mora, nem tem seu telefone.
Consequencias de relações mal estruturadas.
Tudo que é demais traz consequencias não muito boas. Os dois lados saem perdendo. A mãe perdeu a filha não sei por quanto tempo, e ela interrompeu ainda muito jovem parte de sua adolescencia, assumindo responsabilidades  demais e o mais pesado disso, é a falta da relação familiar, somado a isso mágoas, sentimentos negativos.
Lembro de minha adolescencia onde meu pai era assim com todos nós aqui de casa, mas chegou um tempo, ele nos chamou e disse que ele entendia que se nos segurasse demais um dia iamos escapar. E simbolizou esse momento assim: "imaginem que eu tenho terra em minha mão e aperto, uma hora a terra escapará entre meus  dedos, assim vai ser com voces, quanto mais eu os segurar, voces vão encontrar um jeito de escapar. A educação está dada, e qualquer coisa estamos aqui por voces."
Nunca me esqueci disso! E Me senti muito bem! E ai comecei a me cuidar mais.
Uma das aulas do Dr. Ivan Capelatto também completam este pensamento, se este filho é amado bem cuidado, recebe limites, e quando uma hora se rebela infringindo a lei ,por exemplo - hoje voce nao vai sair - e ele sai assim mesmo - ai é que ele se cuida mais, por que vai sentir culpa e vai querer voltar pra casa, por que ele está ligado pelo amor.
Imagino que esta jovem hoje onde quer que ela esteja, quando saiu carregou um peso em suas costas. A consequencia da revolta, pois ai ela já não considera o amor - só a raiva e são estes sentimentos tão pesados que a estão impulsinando para vida! Fantasio até que um dia suas carencias afetivas vão encontrar um marido, e este será dominador.
E imagino que se voce é pai ou mãe e está lendo isto e quer dar o melhor para seu filho, ame, cuide, lembre-se que um dia voce também foi jovem. A personalidade  é desenvolvida até os 6 anos. Dai pra frente, ele precisa de cuidados, contiuar mostrando o certo e o errado, mas não proibir de sair, de dar independencia, deve-se falar de perigos sim, por que quando longe de voces pais, eles estarão em treinamento para sua vida adulta, precisam aprender a se defender dos problemas que encontrão, mas nunca de voces.

6 comentários:

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  2. Lia
    Adorei essa história das moças no ônibus. Também tive uma mãe muito rigorosa, não exageradamente, mesmo assim, eu me sentia distante dela, como "se ela não me entendesse". Ainda bem que não houve extremos como nesse caso.
    Um beijo pra você

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  3. Lia, eu tenho certeza de que pequei pelo excesso do que pela ausência de limites. Realmente, fica difícil, com o mundo que temos hoje, liberar os filhos com a facilidade do nosso tempo. Hoje saímos para a rua e nem sabemos se voltaremos, devido à violência imensa. Claro, com o avanço da idade de meus filhos, fui soltando para festas à medida que já conseguiam se defender sozinhos.Nem oito nem oitenta, o meio termo é sinal de maturidade. Beijos

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  4. Sugestão de tema dentro da psicologia: fobia social. Estou levando o seu feedburner. Beijos

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